A propósito da eventual universidade-fundação tem sido muito enfatizada a problemática do envolvimento da universidade com o mundo exterior que haveria que reforçar com a intenção de tornar as actividades de ensino e pesquisa mais relevantes para a sociedade e mais atractivas ao financiamento por parte de terceiros daquelas mesmas actividades.
Em princípio todos estaremos de acordo em que a universidade abandone a sua “torre de marfim”: as nossas consciências sentir-se-ão mais aliviadas ao saberem que os dinheiros que gastamos servem para alguma coisa e se ainda por cima contribuírem para angariar fundos e outro tipo de prestações, tanto melhor. No contexto de passagem a universidade fundação ainda mais premente se tornam estes desideratos, embora só na medida que a necessidade de angariar receitas próprias se torna mais explícita. Que eu saiba, nada impede a atracção de fundos de terceiros no contexto actual de estatuto de universidade pública.
Os curadores da universidade-fundação teriam precisamente esta função, além da de homologadores-mor de que fala o actual regime, já que oriundos da sociedade civil exterior à universidade, com a qual não podem ter vínculo profissional.
Infelizmente, nada nos respectivos estatutos nos garante que estes objectivos estimáveis venham a ser atingidos. Os curadores são nomeados pelo ministério da tutela sob proposta da universidade/reitor, mas sem qualquer incumbência específica no domínio da angariação de fundos.
A investigação chamada de “pura”ou "fundamental" dificilmente atrairia muitas contribuições privadas externas, porque por definição não é de óbvia aplicação prática. Já a atractividade da pesquisa aplicada poderia ser substancialmente maior, mas os riscos inerentes seriam também maiores. Por um lado coloca-se o fenómeno do mimetismo frequentemente observado entre os estudiosos e o objecto estudado: muitos de entre nós assumimos inconscientemente as angústias p.ex. das empresas que analisamos, transformamo-nos facilmente em seus porta-vozes e abandonamos uma postura crítica que deveria ser apanágio de toda a actividade académica. Aplicações de interesse para empresas raramente fazem avançar a ciência, já que por definição são meras implementações (poli)técnicas mais ou menos bem conseguidas de conceitos e invenções desenvolvidas em outros patamares. Para serem de real valor para as empresas deveriam em muitos casos carregar consigo o atributo da exclusividade que só uma patente aporta, e neste caso pode colocar-se a questão da justa distribuição dos custos do respectivo desenvolvimento, assim com a de sabermos se pertence às autoridades universitárias decidir sobre o respectivo beneficiário.
O exemplo recente da promiscuidade entre a London School of Economics e o regime do coronel Khadafi, que levou à demissão do presidente daquela, não será assim tão representativo e relevante para as universidades portuguesas, mas pelo menos deveria levar-nos a pensar melhor sobre o rumo que queremos propor para o futuro: talvez uma Universidade Coca-Cola/Macdonalds, ou uma Universidade Sonae/Amorim? Ou que dizer duma Universidade Khadafi/Chavez? Já temos a Universidade Sócrates/Gago/Moreira...
Sunday, March 6, 2011
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